“A própria luta para chegar ao cume basta para encher o coração de um homem. É preciso imaginar Sísifo feliz”

Camus, o Mito de Sísifo

Na mitologia grega, Sísifo foi considerado o mais astuto dos mortais. Enganou a morte e os deuses, mais de uma vez. Porém, em determinado momento, ele foi condenado a uma pena sem fim. O castigo de Sísifo é carregar com as mãos uma rocha pesada até o cume de uma montanha, mas chega ao destino sempre exausto demais para impedir que a pedra role montanha abaixo, voltando ao ponto inicial. Todos os dias, ele precisa recomeçar e carregar a pedra até o cume da montanha.

Apesar de sua condenação eterna, Sísifo não necessariamente odeia o processo. Imaginemos Sísifo sorrindo. Ele claramente está condenado a um trabalho inútil, penoso e sem qualquer vislumbre de resultados. Ainda assim, Sísifo decide amar o processo e fazer dele sua motivação para viver, dia após
dia, criando novas estratégias sobre como carregar a rocha e qual o melhor caminho a percorrer até o cume da montanha, fazendo com que o processo diário traga sentido ao existir. Assim como tudo na mitologia Grega, Sísifo tomou uma decisão difícil que o levou a consequências.

Hoje no mercado, nos deparamos com vários dilemas, o principal deles é o FED que, ao elevar as taxas de juros, pode conduzir a economia Americana e uma desaceleração, e ou, recessão. O presidente do Fed, Jerome Powell, acenou com mais elevações de juros, a depender, porém, dos dados a serem divulgados, e da evolução das perspectivas da economia.

A inflação americana permanece no maior nível em mais de quatro décadas. Powell afirmou que o compromisso com a estabilidade de preços nos EUA é incondicional, que o foco é a meta de 2%. Apesar da estabilidade dos preços ainda levar algum tempo a ser atingida, e de causar um baixo crescimento, a percepção é a de que os juros americanos permanecerão elevados por mais tempo. Está difícil interpretar os passos do Fed. Em 2021, Powell promoveu o estímulo monetário agressivamente quando a inflação estava subindo, e até abril deste ano, o Fed ainda estava expandindo seu balanço.

Agora, mesmo com a inflação central do PCE caindo e as expectativas de inflação implícitas pelo mercado de títulos estarem fortemente em queda, o presidente do FED, Jay Powell, aumentou o aperto monetário.

Na Europa, além das sanções econômicas sobre a Rússia relacionadas à guerra da Ucrânia, as altas temperaturas e a seca também estão causando ainda mais restrições à produção, fazendo com que os preços da energia subam.

Na China, os últimos dados de atividade vieram mais fracos do que o esperado, o mercado imobiliário está sofrendo devido à queda nas vendas e construção, os bancos estão enfrentando um aumento na inadimplência hipotecária, e o país também está passando por uma seca que está afetando a produção.

Aqui no Brasil, estamos vendo uma recuperação na economia, melhor do que o esperado. O PIB brasileiro crescerá mais de 2% este ano após dados recentes de atividade que surpreenderam, puxado principalmente pelo setor de serviços. A inflação de 2022 provavelmente será próxima de 6,5%, depois de chegar a uma expectativa de até 9% poucas semanas atrás.

Esse movimento é justificado, principalmente pela queda dos preços do petróleo, que provavelmente influenciará os indicadores de inflação serem negativos nos próximos dois meses. Veremos um superávit fiscal primário tanto para o governo nacional quanto para o governo local em anos. O governo se beneficiou de preços mais altos de commodities, inflação mais alta, dividendos de empresas públicas e atividade econômica mais forte em geral, além da reforma previdenciária aprovada em 2019, o menor crescimento real do salário-mínimo e dos salários dos servidores públicos.

O desemprego está caindo para o nível de 8%, depois de atingir 15% no pico da pandemia. O BC deve encerrar o ciclo de aperto monetário, à frente dos principais bancos centrais do mundo, e deve ser um dos primeiros a iniciar um ciclo de flexibilização, até meados de 2023.

Parece que anos e anos que levamos para combater a inflação nas décadas de 80 e 90 nos ajudaram, assim como Sísifo, a descobrir a melhor forma de levar a rocha montanha acima.

Por: Arnaldo Silva – CIO

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