“Como foi que caíste dos céus, ó estrela da manhã, filho d’alva? Como foste atirado à terra, tu que prostrava todas as nações? Afinal, tu costumavas declarar em teu coração: “Hei de subir até aos céus; erguerei o meu trono acima das estrelas de Deus; eu me estabelecerei na montanha da Assembleia, no ponto mais elevado, o alto do norte, o monte santo.”

Isaías 14

A vaidade, segundo algumas linhas de pensamento judaico-cristãs, é a raiz e todos os outros males que podemos sofrer ou causar ao próximo. E quando me refiro à vaidade não estou falando sobre se vestir bem, frequentar a academia ou praticar um esporte que pode trazer retornos positivos em questão de saúde ou bem-estar.

A vaidade ruim a qual me refiro, está mais próxima do que imaginamos, escondida no porão de nossas próprias mentes. Mascarada na falsa humildade, na bondade para sermos aceitos e queridos, na incapacidade de dizermos algo contrário ao esperado. Aquela que nos impede de aceitar que erramos. A vaidade vai contaminando nosso ego e faz com que tenhamos atitudes contrárias a nós mesmos e pode trazer graves consequências.

A assertividade no mercado financeiro é vista com bons olhos; ter resultados consistentes é importante, porém considerar a possibilidade de “estar errado” é crucial no longo prazo. Diversos bancos, fundos e corretoras ao longo da história se consideraram imunes a erros e de certo modo infalíveis; como resultado, algumas destas instituições ficaram pelo caminho.

O Índice Bovespa apresentou performance negativa pelo quarto mês consecutivo, com -6,7% no mês de outubro e acumulando queda de -20,9% desde o seu pico no início de junho. As crises política e econômica criaram dinâmicas próprias, e o comportamento do mercado financeiro brasileiro perdeu o rumo em relação ao mercado internacional.

A economia brasileira apresenta uma situação fora do normal: apesar dos indicadores econômicos publicados recentemente apontarem para uma retomada econômica ainda forte como resultado do controle da pandemia, com números fiscais e de dívida pública melhores que os esperados anteriormente; o continuado direcionamento político para gastos públicos (programa de distribuição de renda) juntamente com a inflação correndo muito acima do centro da meta, fazem com que as expectativas econômicas para 2022 sejam revisadas negativamente.

O rompimento do teto de gastos e a divulgação de índices de inflação acima de 10% ao ano, levaram as taxas de juros futuros para patamares acima de 12%. O cenário de depreciação da moeda e o nível atual do IPCA, forçou o Bacen (ainda bem que agora independente) a reagir de forma agressiva com o aumento de juros. A elevação dos juros impactará o crescimento nos próximos trimestres, afetando os setores da indústria e comércio. Mesmo assim, o setor de serviços deve seguir forte devido à recuperação da demanda reprimida com o fim das restrições causadas pela COVID19.

Sobre o cenário internacional, a preocupação continua sendo a inflação. Diversos Bancos Centrais já sinalizam um início de aumento das taxas básicas de juros e mostram que o “final da festa” de juros baixos está próximo. A maioria das economias ainda deve apresentar crescimento razoável nos próximos trimestres. Como consequência, teremos elevação dos índices de inflação e juros. Apesar do cenário estar mais desafiador neste semestre para os investidores, os principais índices na Europa e EUA renovaram suas máximas, e este movimento deve continuar enquanto o FED seguir comunicando que não pretende elevar a taxa de juros nos EUA. O “tapering” que é a redução dos incentivos pelo banco central americano foi bem recebido pelo mercado.

A avaliação para a Portogallo no momento é a continuidade da escalada do Dólar em relação ao Real, e nos manter neutros em exposição ao Índice Bovespa e papéis longos pré-fixados.

A revisão é contínua sobre os cenários econômicos e as posições são montadas aos poucos, afinal de contas, não iremos sucumbir à vaidade.

Por Ricardo Veles, CIO

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