“Nenhum ladrão, por mais hábil que seja, é capaz de roubar o conhecimento de alguém, e é por isso que o conhecimento é o melhor e mais seguro tesouro que se pode adquirir.” 

L. Frank Baum

O Mágico de Oz conta a história de Dorothy Gale, uma órfã que vivia numa fazenda do Kansas com seus tios e seu cachorro chamado Totó. Num dia habitualmente cinzento, um ciclone leva a garota para a terra de Oz. 

Quando ela chega em Oz, Dorothy recebe os sapatos prateados mágicos de uma das bruxas da região e vai em direção à Cidade das Esmeraldas, que é onde o mágico vive. E ela precisa encontrar esse todo poderoso mágico para pedir que ele lhe ajude a voltar para o Kansas. 

Para chegar à Cidade das Esmeraldas, Dorothy tem que seguir por uma estrada de tijolos amarelos onde ela encontra outras três figuras incríveis: o Espantalho, o Lenhador de Lata e o Leão Covarde. E esses três personagens se juntam à Dorothy para também encontrar Oz e, cada um, pedir algo para ele: o Espantalho quer um cérebro para pensar como os homens, o Lenhador de Lata um coração para amar e o Leão Covarde deseja coragem para ser o destemido Rei dos Animais. 

O que muitas pessoas não sabem a respeito da história, é que ela está cheia de mensagens subliminares sobre o cenário político e econômico da época. 

O autor escreveu a obra logo após uma das eleições presidenciais considerada pelos cientistas políticos como uma das mais dramáticas e complexas da história americana: A eleição de 1896, na qual o republicano William McKinley venceu o democrata William Jennings Bryan. 

Mas o que isto importa? Em meados de 1785, os Estados Unidos adotaram um padrão monetário em que as pessoas usavam a moeda de prata e ouro como forma de dinheiro e depois como lastro para os dólares, usando a prata mais para fins comerciais e guardando o ouro em casa para fins de reserva de valor. 

Voltando à história do Mágico de Oz, vamos enfim fazer alguns apontamentos: 

A estrada de tijolos amarelos: É o caminho percorrido pelos personagens na trama e representa o padrão ouro. Vale lembrar também que “Oz” é a forma abreviada de onça (medida de peso do ouro). 

Os sapatos prateados de Dorothy: Permitem que a garota caminhe tranquila sobre a trilha de tijolos dourados, mostrando que o padrão bimetálico funciona. 

Espantalho: Representando os agricultores, acredita que é um tolo, sendo que sua cabeça está cheia de palha e sem cérebro, sinalizando como a parte mais rica do país enxergava estes trabalhadores. 

Lenhador de Lata: Representando o trabalhador industrial oprimido, o homem do século 19 teve que se comportar como uma máquina sem humanidade. 

Leão: Este personagem é o próprio candidato político populista das eleições presidenciais de 1896 – William Jennings Bryan, o qual o autor apoiava. Diziam que seu porte alto e de voz grossa, faziam sua figura política se assemelhar a um leão e seu rugido. Vale lembrar também que, na história, o Leão é tido como covarde, na alusão do período em que Bryan foi acusado como covarde por não apoiar a guerra dos EUA com a Espanha. 

O Mágico de Oz: Ele é o líder nacional de Oz, portanto, sendo também adequado compará-lo ao Presidente dos Estados Unidos. 

A obra de L. Frank Baum não pode ser mais atual, com o cenário político composto por leões “pseudo liberais” sugerindo aumento de impostos

Da mesma forma que a tempestade causou a paralisia do homem de lata que representa o trabalhador industrial, a COVID19 também paralisou a economia em escala global. 

O ouro que em épocas de incerteza sempre foi um porto seguro, sofreu desvalorização de -3,5% em setembro. Houve até mesmo a oscilação negativa de fundos compostos por letras financeiras do tesouro, o ativo “livre de risco” também pode perder valor. 

A oscilação negativa das bolsas é um caso à parte. Do lado Brasil o ápice da discussão foi atingido quando a proposta para o “Renda Cidadã”, novo programa social do Governo Federal, foi apresentada e constatou-se que a fonte das receitas baseavam-se no uso de recursos de outro programa federal fora do “Teto de Gastos” e na postergação do pagamento de precatórios judiciais (ambas alternativas para a União gastar mais sem ter receitas adicionais). Num passado não muito distante, pedaladas e contabilidade criativa faziam parte do nosso cotidiano, sabemos que o descrédito da equipe econômica é princípio de um colapso. O mercado não digeriu bem essa possível manobra e o resultado foi: Índice Bovespa -4,8% no mês, dólar +2,6% e a curva de juros abriu mais, sugerindo que teremos aumentos de juros mais agressivos nas próximas reuniões do COPOM. 

No cenário externo houve a realização de lucro, principalmente nos setores de tecnologia que vinham crescendo de forma exponencial. Apesar da queda do índice NASDAQ de -5,9%, no ano ele se sustenta com robustos + 23,5%, enquanto o S&P500 que teve queda de -4,7% no mês, continua positivo no ano em 3,2%. Os índices de atividade permanecem crescentes. 

Aguardando notícias a respeito de um novo pacote de estímulos do Federal Reserve, vacina e eleições americanas, o mês de setembro foi marcado pela volatilidade e incerteza. 

Os sapatos de prata funcionaram muito bem em Oz, mas para o momento, a diversificação é a maneira mais segura de atravessar a turbulência. 

Por Ricardo Veles, CIO

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