Investidor pode diversificar portfólio com produtos de crédito privado, fundos multimercados e ETFs
SÃO PAULO – Com o extenso leque de produtos disponíveis hoje nas plataformas de investimento, e variáveis com pesos cada vez mais relevantes na análise de retorno, como a inflação e os juros em níveis historicamente baixos, o trabalho do investidor pessoa física para selecionar onde alocar o dinheiro anda mais difícil.
Para montar uma carteira diversificada, sem deixar todos os ovos na mesma cesta, é preciso analisar os riscos e o potencial de retorno de cada produto, e conferir se os preços dos ativos cabem no bolso. Embora haja ainda muitas alternativas voltadas exclusivamente aos milionários brasileiros, há um número cada vez maior de opções para diferentes tamanhos de patrimônio.
De olho em uma carteira mais “popular”, o InfoMoney procurou gestores de patrimônio e uma assessora de investimento para conferir quais são as melhores oportunidades hoje para aplicar R$ 10 mil, considerando que o investidor já conta com um colchão de emergência, isto é, um valor reservado para urgências.
Entre as principais sugestões estão produtos de crédito privado, fundos multimercados, fundos de índice (ETFs) e fundos imobiliários, com alocação tanto na renda fixa quanto na variável.
Dan Kawa, sócio da gestora de patrimônio TAG Investimentos, afirma que, ainda que o montante seja pouco expressivo, a grande maioria dos fundos têm aplicações mínimas baixas, de R$ 100 a R$ 5 mil.
“Hoje, mesmo com R$ 10 mil é possível ter acesso a excelentes produtos que antes só eram permitidos a milionários. Os produtos agora já passam por um crivo da plataforma, têm a diligência das casas de análise e o investidor consegue fazer uma boa diversificação do portfólio”, afirma.
Segundo o executivo, embora não exista uma diversificação ideal para os portfólios, é importante que o investidor distribua o montante entre diferentes classes de ativos, setores e gestores.
Ele avalia que, com R$ 10 mil, 30 fundos seriam uma diversificação excessiva, ao passo que apenas três alocações seriam pouco.
“Tem um ponto ótimo entre sete e 12 alocações que parece ser mais coerente para o tamanho do montante. Acertando esse balanceamento entre classes e gestores, o investidor consegue ter um retorno interessante”, afirma.PUBLICIDADE
Confira a seguir como montar uma carteira de investimentos com R$ 10 mil hoje:
Renda fixa conservadora
Feita a reserva de emergência, com ao menos seis meses de despesas alocados em produtos de baixo risco e alta liquidez, como o título público Tesouro Selic, o investidor pode começar a pensar em diversificar sua carteira para outros produtos e classes de investimento.
Na renda fixa, ainda que a queda dos juros tenha reduzido os ganhos das aplicações mais conservadoras, ainda há oportunidades na classe.
Segundo Mario Melilli, sócio da gestora de patrimônio Portogallo Investimentos, com uma carteira de R$ 10 mil, boas opções podem ser encontradas em ativos como Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio (LCIs e LCAs), isentas de Imposto de Renda para a pessoa física, que paguem uma taxa de pelo menos 111% do CDI para prazos de dois anos, o que equivale a um retorno nominal (sem descontar a inflação) da ordem de 2,22% ao ano no ambiente atual.
Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) de bancos médios com prazo de dois anos e prêmios de 130% do CDI também são colocados como opções interessantes para a fatia mais conservadora da carteira, e contam igualmente com a cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), diz Daiane Reis, sócia do escritório Monte Bravo.
Oportunidades pontuais, de bancos médios, com vencimentos de um a dois anos e mínimo na casa de R$ 1 mil, podem oferecer ainda prêmios mais atrativos, de 160% do CDI, diz.
Já entre os papéis bancários atrelados à inflação, que permitem a manutenção do poder de compra do investidor ao longo do tempo, CDBs com prazo de dois anos oferecem taxas de IPCA mais 2%, enquanto naqueles com prazos mais longos (sete anos), o retorno chega a IPCA mais 4,5%.
Para critério de comparação, no Tesouro Direto, por exemplo, um papel indexado à inflação com prazo semelhante (seis anos), pagava nesta segunda-feira (18) uma taxa anual de IPCA mais 2,74%.PUBLICIDADE
Na parcela do patrimônio a ser destinada a títulos públicos, o sócio da TAG Investimentos diz gostar dos indexados à inflação com vencimento mais longo, em 2050, que pagam taxa na casa dos 4% ao ano.
Kawa conta que o percentual em renda fixa pode chegar a até 48% em uma carteira conservadora. Nos perfis moderado e arrojado, contudo, a alocação na classe recua para 38% e 31,5%, respectivamente. O restante estaria alocado em fundos multimercados, ações e investimentos internacionais.
Já na XP, a recomendação é que o investidor conservador tenha 100% dos recursos em renda fixa, em ativos pós-fixados. O percentual cai para 44,5%, nas carteiras moderadas e passa a contar também com ativos indexados à inflação, e diminui para 21% no perfil agressivo, em que a alocação internacional, fundos de ações e multimercados completam o portfólio.
Renda fixa mais arrojada
Para o investidor que quer apimentar a parcela de renda fixa da carteira, prêmios mais atraentes podem ser encontrados nos produtos de crédito privado sem a proteção do FGC, emitidos por empresas para se financiarem, como debêntures.
Kawa, da TAG, avalia que a posição em fundos de crédito privado deve fazer parte de todas as carteiras, dado o cenário de juros nas mínimas históricas. Entre as opções com aplicação inicial mais baixa, o especialista cita fundos como ARX Vinson, Capitânia Premium e SPX Seahawk, que têm aplicações mínimas de R$ 1 mil e liquidez D+30 a D+45.
Já na Monte Bravo, Daiane prefere a escolha individual dos ativos, como debêntures incentivadas, que são isentas de IR para a pessoa física e pagam, em média, taxas de IPCA mais 4% nos papéis de primeira linha (com classificação de risco de crédito “AAA”, “AA” ou “A+”), afirma.
No grupo de debêntures, a executiva diz gostar dos setores de logística e energia eólica. São, contudo, investimentos de longo prazo, como de 13 a 18 anos.
A escolha de Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio (CRIs e CRAs), que também têm isenção tributária para a pessoa física, é outra sugestão, pelos prêmios interessantes.PUBLICIDADE
É o caso de CRIs de grandes empresas, listadas em Bolsa, e prazos de dois anos, que paguem 130% do CDI, além de CRAs de prazos mais longos (como nove anos), com taxas de IPCA mais 4%.
Daiane recomenda a posição na classe, contudo, apenas para investidores com perfil a partir do moderado e que façam uma extensa análise do risco dos papéis.
Fundos multimercados
Ampliando a diversificação do portfólio, ainda na carteira de R$ 10 mil, o investidor pode acrescentar fundos multimercados – classe preferida para clientes de perfil moderado da Portogallo Investimentos, com fatia de 30%.
“Em tempos de grande incerteza e volatilidade, é o ativo mais adequado por dar mais liberdade ao gestor e conseguir capturar movimentos diversos dos mercados”, diz Melilli, citando a possibilidade de investimento em diferentes classes de ativos, como renda fixa, ações e câmbio.
Entre as gestoras que compõem as prateleiras no radar dos clientes, Melilli cita produtos da Occam Brasil, Vinland Capital, Vinci Partners, Legacy Capital e Mauá Capital, com aplicações mínimas entre R$ 500 e R$ 1 mil.
Os multimercados também ganham espaço na carteira dos clientes da Monte Bravo, a partir do perfil moderado. Entre as assets, Daiane cita Kilima e Occam Brasil.
Ações
Na parcela de renda variável, Kawa cita o fundo AZ Quest Ações FIC FIA, assim como o ETF iShares S&P 500 (IVVB11), que permite uma exposição internacional ao replicar a performance do Índice S&P 500 em reais (S&P 500 Brazilian Real Index). “É uma boa maneira de diversificar e ter posições na bolsa americana”, diz.
Na gestora, a fatia de ações começa em 5% na carteira dos investidores conservadores, sobe para 25%, nos moderados, e para 35%, no perfil agressivo. Já o investidor considerado “superagressivo”, com a maior aceitação ao risco possível, pode ter uma fatia de até 40% alocada na classe.
Dada a quantia relativamente baixa para o investimento, Melilli, da Portogallo, sugere a alocação em ações via ETFs, como o BOVA11, que replica o desempenho do Ibovespa, exige um valor mínimo de aplicação baixo (na casa dos R$ 120) e permite a exposição a uma cesta diversa de ativos, diz.
Daiane, por sua vez, cita fundos como o Kilima FIA, AZ Quest Top FIA, Verde Long Biased e Tarpon FIA. No escritório, a parcela de ações compõe apenas o portfólio dos investidores arrojados.
Fundos imobiliários
Outro produto que também pode compor a alocação de renda variável do investidor são os fundos imobiliários.
Na TAG, a classe pode compor as carteiras de todos os perfis, respeitando o limite de aceitação de risco de cada um. Kawa reforça, contudo, o cuidado na escolha dos FIIs, com prioridade para aqueles multiativos (com mais de um ativo) e com diversos inquilinos.
Caso o investidor não queira ter posições em fundos de fundos, os FOFs, ele pode buscar FIIs que tenham diferentes ativos no portfólio para reduzir o risco de eventos específicos. Segundo ele, a tese mais coerente no curto prazo recai sobre os fundos de galpões logísticos, em meio ao avanço do e-commerce.
Em entrevista ao InfoMoney, Ricardo Almendra, CEO da RBR Asset, afirmou, contudo, que os fundos imobiliários de galpões logísticos podem deixar a desejar em retorno nos próximos anos.
Segundo ele, os FIIs de logística estão cobrando um aluguel elevado e é esperada certa correção nos próximos anos com a renovação de contratos e a necessidade de locação dos espaços vagos.
Na Portogallo, que também recomenda o investimento para os clientes, a escolha recai sobre os fundos imobiliários mais líquidos negociados em Bolsa, diversificando entre ativos, segmentos e gestores. Entre os FIIs mais negociados de 2020, segundo dados da B3, estiveram o XP Log, CSHG Logística e XP Malls.
É preciso, contudo, monitorar riscos como aumento da vacância e inadimplência, ressalta Melilli.