O formato ‘Wealth’ começa a acelerar no Brasil, e o escritório é um dos mais tradicionais do segmento no momento
21 dez 2023
Por FABRIZIO GUERATTO
Hoje, dificilmente um investidor brasileiro não conhece a XP. Diferente de 20 anos atrás, em que haviam poucas opções, além dos bancos tradicionais, a mudança trazida pelo Guilherme Benchimol mudou o mercado. Escritórios de agentes autônomos se espalharam pelo País e bilhões de reais deixaram as instituições financeiras tradicionais.
Nestes casos, a remuneração destes profissionais é feita por meio de uma comissão sobre os investimentos que os clientes dos agentes autônomos de investimentos (AAIs) fazem.
Agora, um novo modelo, já consolidado em países como Estados Unidos e Inglaterra, começa a acelerar no Brasil, o formato Wealth. Neste segmento, focado em alta renda, o cliente paga um percentual do valor total investido, que geralmente gira entre 0,5% e 1% ao ano. Em compensação, todo “rebate” que a instituição financeira passaria para o escritório de Wealth, é devolvido para o cliente.
Como tenho observado que este modelo de assessoria tem crescido muito no País, resolvi conversar com o Mario Melilli, sócio na Portogallo Investimentos, um dos mais tradicionais escritórios desse segmento, com mais de R$ 1,5 bilhão sob gestão, para entender qual a visão dele de mercado para 2024 e como o segmento de Wealth tem sido a escolha de grandes fortunas.
Confira abaixo a entrevista exclusiva:
Quais investimentos de renda fixa e renda variável devem apresentar boa performance em 2024?
Acreditamos que em 2024 os juros permaneçam próximo de dois dígitos, continuam bastante atrativos, mantemos alocação em renda fixa LCA, LCI, CRI e CRA como oportunidades seguras e rentáveis. Preferimos ficar fora da renda variável, pelo risco e pouco espaço depois da alta de 12% em novembro.
Com a queda da Selic, a renda fixa começará a perder atratividade no ano que vem?
Não, de forma alguma, dois dígitos ou próximo disso é bastante atrativo, o juro real no Brasil ainda é um dos maiores do mundo.
Em 2024, ainda será possível rentabilizar a carteira em mais de 1% ao mês?
Será uma missão mais difícil encontrar bons ativos e taxas. Talvez aumentar a exposição em multimercados e também analisar o perfil de cada família ao risco, será uma lição de casa.
A Portogallo tem clientes com grandes fortunas. Como está sendo feito o rebalanceamento da carteira desses clientes para 2024?
Somos um Multi Family Office conservador. Nossa prioridade é preservar o capital das famílias que cuidamos, por isso tomamos muito cuidado nas realocações e posições, dependendo do cenário podemos aumentar a parcela no mercado internacional, mas vai depender de uma avaliação com o cliente e perfil.
Vocês são escritório de Wealth. Qual a diferença, para o investidor, em relação a um escritório de agente autônomo tradicional?
O nosso modelo é voltado 100% para os interesses dos clientes, não recebemos comissões ou rebates dos bancos, pelo contrário, devolvemos para os clientes todos os rebates e comissões, desta forma mitigamos o conflito de interesse, e somos remunerados apenas pelos clientes. No modelo de AAI a remuneração é por venda de produtos, que geralmente têm comissões diferentes por emissor.
Outro diferencial é que uma parcela da nossa remuneração vem da performance da carteira, ou seja, estamos alinhados com o retorno e interesse dos nossos clientes.
Vocês acreditam que este modelo de remuneração será a tendência do mercado financeiro nos próximos 10 anos?
Sim, acredito que esse modelo há anos vem se consolidando nos Bancos e Plataformas, é um modelo mais transparente.