A adversidade desperta em nós capacidades que, em circunstâncias favoráveis, teriam ficado adormecidas.
Horácio
Para quem não se lembra, o filme A escolha de Sofia se passa num campo de concentração nazista. Sofia, uma mãe judia, é obrigada a escolher qual de seus dois filhos será morto. O filme aborda o sentimento de culpa e como cada ato nosso, até mesmo os impensáveis, exige escolhas complexas. Ao longo do filme, é possível perceber a mudança da personagem principal, que passa de uma mulher leve e delicada para uma mulher marcada pela profundidade dos dilemas que se apresentam.
As adversidades expostas apresentam grande agudeza, percebida na quantidade de escolhas possíveis e que são afetadas pela época e pelo objetivo. Sofia decide poupar a vida do filho, por acreditar que ele suportaria os castigos que viria a passar no campo de concentração, o que culminou na morte de sua filha.
O cenário continua desafiador
A divulgação dos índices de preços ao consumidor dos EUA em 13/09, referentes ao mês de agosto mostrou um núcleo acima das expectativas, sinalizando um processo inflacionário persistente. A variação anual dos núcleos acelerou para 6,3% em agosto (ante 5,9% em julho), muito próximo do pico registrado em abril (6,5%), culminando com o com o FED elevando novamente as taxas em 0,75%, na reunião de setembro. O maior ciclo de aperto e reversão da liquidez global de todos os tempos.
O dólar se valorizou rapidamente em relação a praticamente todas as moedas globais e o mercado de títulos soberanos também se estressou, levando o título de 10 anos do Reino Unido (Gilt) para acima de 5%, provocando preocupações com a insolvência dos fundos de pensão. O Banco da Inglaterra encerrou rapidamente a retirada de liquidez do mercado para evitar um colapso brutal de seu sistema previdenciário.
O movimento contaminou os mercados de renda fixa, levando o estresse de crédito a níveis críticos. Vale lembrar que os mercados de ações e de renda fixa registraram, ao mesmo tempo, três trimestres negativos consecutivos pela primeira vez em mais de quatro décadas.
Aqui no Brasil, o Banco Central manteve os juros em 13,75% aa. Os indicadores de inflação, assim como as projeções estão em queda, porém os núcleos continuam resilientes, mantendo-se no patamar de 9% aa.
As eleições parecem estar superadas, com o mercado avaliando que Henrique Meirelles será o homem forte da economia em um possível governo “PT”.
Os indicadores continuam favoráveis, com crescimento do PIB, diminuição do desemprego, inflação aparentemente controlada. Porém, assim como nos EUA, o núcleo da inflação está bastante resiliente e a preocupação com o Fiscal para os próximos anos, seja qual for o presidente, persiste.
Vários elementos não incorporados ao orçamento do próximo ano devem levar à piora adicional do resultado primário em 2023. Caberá ao próximo presidente adotar uma abordagem realista e responsável para lidar com o risco fiscal de 2023.
Tanto nos EUA como aqui no Brasil, as autoridades têm decisões difíceis a tomar. Aqui o Banco Central já decidiu dar uma pausa no aperto monetário, pois iniciamos o processo antes. O contexto Global não é favorável, com a recessão mundial batendo à porta, e decisões assertivas são necessárias.
A escolha do FED
Assim como no filme, o FED tem uma difícil decisão a tomar, continuar com o aperto monetário implica em colocar o mercado de crédito global em colapso. Voltar a uma política monetária que aumenta a oferta de moeda provavelmente eleva o processo inflacionário.
Talvez seja prudente, adotar um ritmo mais lento de aumentos de taxas nas próximas reuniões e uma pausa potencial posteriormente, para permitir que a economia se ajuste totalmente a todo o aperto extremo já implementado. Não fazer isso aumenta o risco de disfunção do mercado de crédito, que, se
ocorresse, seria difícil de conter e corrigir.
Nos nossos investimentos, continuamos surfando os juros atrelados ao CDI aqui no Brasil e começamos a olhar para a renda fixa em USD. De qualquer forma, permanecemos cautelosos em relação os mercados acionários.
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