“Quando passarem pelas águas, estarei contigo, e, quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti”

(Isaias 43:2)

Durante o terceiro ano do reinado de Jeoaquim, rei de Judá, veio Nabucodonosor, rei da Babilônia, a Jerusalém, e a sitiou. O rei da babilônia ordenou que os jovens da linhagem real, de boa aparência, doutos em ciência, e entendidos no conhecimento, fossem trazidos para servir em seu palácio.

Entre os escolhidos, estavam: Hananias, Misael e Azarias.

Os hábitos hebreus quanto à alimentação, orações, costumes e leitura das escrituras sagradas foram mantidos pelos três amigos. No exílio na Babilônia, os jovens longe de seus mestres, pais e sociedade, poderiam ter se “esquecido” do que haviam aprendido com seus antepassados e se conformado a nova cultura em que estavam inseridos. No entanto, se mantiveram firmes em seus fundamentos.

O rei da Babilônia então construiu uma estátua de ouro e estabeleceu que quando se ouvisse qualquer espécie de música no reino, todos se prostrariam e adorariam a obra que havia sido levantada. E qualquer um que descumprisse seu novo comando, seria lançado na fornalha, que servia como uma espécie de aquecedor para a província.

Alguns problemas são inevitáveis quando se está comprometido com seus fundamentos. Invariavelmente as situações virão contra seus valores em algum momento, e a situação não foi diferente com os jovens de Judá. Eles haviam recebido as instruções de seus antepassados, que proibiam a adoração a outros deuses ou monumentos.

Os três amigos estavam dispostos a enfrentar as consequências e sabiam do risco que estava diante deles, por não abrirem mão do que lhes foi ensinado e acreditavam. E então, o rei enfurecido com a postura dos exilados, segue com seu decreto e os condena a fornalha.

A história nos conta que os príncipes, capitães, os governadores e os conselheiros do rei, viram que o fogo
não teve qualquer efeito sobre eles e as respectivas acusações foram retiradas.

Quando a situação mais adversa ocorre, os fundamentos indicarão o caminho em meio ao caos.

Com a queda de -3,94% em julho, o Índice Bovespa interrompeu a sequência de altas que vinham desde fevereiro deste ano. O cenário internacional ainda é positivo, dada a conjuntura de alta liquidez e juros baixos, porém a desaceleração causada pelo receio com a variante Delta (COVID19) e as incertezas sobre os preços da commodities, aumentaram a volatilidade dos mercados globais.

Sobre o Brasil, apesar de estarmos em recesso parlamentar, o cenário político foi desastroso. Os malabarismos insinuados pelo Ministro da Fazenda Paulo Guedes para patrocinar o

novo programa de distribuição de renda utilizando os recursos dos precatórios não agradou o mercado, tão pouco os textos propostos para a reforma tributária.

O ponto positivo para o momento é que após um longo período de descontrole sobre a pandemia, a vacinação tem acelerado e os números de óbitos, internações e contaminações têm cedido de forma consistente. É provável que mais de 55% da população tenha recebido pelo menos a primeira dose até setembro.

No cenário internacional, a inflação continua assombrando os Estados Unidos, que em breve pode iniciar a redução de estímulos monetários

‘tapering’. Apesar dos discursos mais amenos pelo FED, é provável que após o mês de agosto (fim do verão no hemisfério norte), a força de trabalho recupere tração e com isso traga maior impacto sobre os preços de forma contínua e não passageira como vem sendo anunciado. O choque de demanda atualmente é muito maior do que o gargalo pelo lado da oferta. As ações de tecnologia, representadas pela Nasdaq, tiveram a valorização no mês de +2,86% e o S&P500 +2,44%, enquanto o Dólar se apreciou perante o Real em +4,90%.

A volatilidade será alta nos próximos meses, o risco político e fiscal dará o tom para o mercado doméstico. O início do ‘tapering’ pelo FED pode enxugar a liquidez global para os ativos de risco e levar a desvalorização das moedas em relação ao Dólar, principalmente dos países emergentes.

O momento pede cautela, a seleção de ativos precisa ser feita de forma criteriosa, o hedge da carteira em moedas estrangeiras e posições em ativos pós fixados precisam estar no radar.

Hananias, Misael e Azarias enfrentaram o sistema político e a fornalha confiando em seus fundamentos, nós também agiremos da mesma forma, através da análise dos firmes fundamentos de cada ativo que irão compor o nosso portfólio.

Por Ricardo Veles, CIO

A Portogallo Investimentos, uma gestora de recursos independente idealizada pelos principais sócios da MP Advisors, devidamente credenciada pela CVM a exercer as suas funções e aderente aos códigos aplicáveis da ANBIMA e agora a serviço dos nossos clientes.

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